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quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

A vida dos outros.

A nossa vida é aquilo que fazemos com ela. Vive das voltas que lhe damos, das pessoas que a frequentam e dos acontecimentos que a preenchem. A sorte e o dinheiro também ajudam e a saúde é um pilar.

Depois também há as oportunidades. Aquelas que procuramos e das quais não desistimos e aquelas que nos dão. Seja de que modo for, o importante é fazer valer a pena.

A vida dos outros, ou melhor, a vida de "alguns outros" deixa-nos sempre a suspirar por algum pormenor. Há sempre alguém cuja vida, ou a forma como a vive, nos seduz. Suspiramos pelo seu glamour, pela beleza, pela magreza, excentricidade, pela profissão, pelo marido, pela mulher, pela sensualidade, pela criatividade, pelo cão ou pelo gato, enfim. 

Confesso que nos últimos tempos também tenho suspirando por coisas que vou vendo nos outros. Suspiro quando vejo a mãe de uma amiga do meu filho, que está pronta com os filhos sorridentes e bem dispostos, sempre a horas, à porta da escola. Suspiro ainda mais fundo, quando saio mais tarde de casa, e já vejo essa mãe em traje desportivo a fazer as suas caminhadas em passo acelerado. Suspiro quando vejo a S. que decidiu mandar o trabalho por conta de outrem, às urtigas e começou tudo de novo, num ramo diferente e a trabalhar por sua conta a partir de casa. Suspiro ainda mais quando passo à porta dela e a vejo enfiada no jardim a tratar das suas plantas. 

Suspiro acima de tudo por coisas que vejo nos outros e que gostava mesmo de ver a acontecer comigo. Hábitos que não consigo mudar, objectivos que não consigo atingir, saltos que tenho medo de dar. E tudo coisas que parecem tão simples de ser realizadas nas vidas dos outros.

Porque raio a vida dos outros nos parece sempre mais fácil de viver?



sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Queres o meu amor?

Queres? Queres o meu amor?
Vem buscá-lo. Procura-o e acarinha-o.

Usa-o sem medo e apropria-te dele para sempre.

O meu amor é teu. 
Cada gesto que ele faz, cada som que ele exprime.

Anda. Afaga-me o rosto, aperta-me num abraço e afasta-me a franja que esconde timidamente o brilho dos meus olhos, sempre que me tocas.

As tuas mãos são porto seguro, dão-me colo e conhecem-me desde o primeiro dia. Entrelaça-as nas minhas e deixa-as aí descansar.

Anda. Queres o meu amor? 

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Melancolia de Mãe

De hoje a um mês o meu filho faz 6 anos e naturalmente já entrei em modo melancolia. Volto a lembrar-me de cada momento da gravidez. Fico brava comigo se dou por mim a esquecer algum pormenor. Não quero perder nada. Foi extraordinário em termos de sentimentos e emoções. Gravidez e parto maravilhosos. Um miúdo fantástico, inteligente, curioso, amigo, sentimental... E agora caio verdadeiramente em mim e vejo que está crescido. Que me escapa a cada dia que passa. Normal. Mas estranho ainda.

Cresce ele e cresço eu enquanto mãe. Aprendo todos os dias a lidar com esta sensação de perda anunciada. É bom vê-los crescer, vê-los fazerem parte do mundo, mas também dói nas entranhas vê-los ganhar asas e sair debaixo das nossas. 

Engraçado como de uma forma inconsciente (ou nem tanto) tentamos criar barreiras ao crescimento deles, a esta fuga predestinada. 

Hoje senti isso na pele. Havia roupa para guardar nos roupeiros e não havia espaço. Fui em busca de gavetas e prateleiras que pudessem ser desocupadas ou reorganizadas. Inacreditável. No roupeiro dele ainda existia uma prateleira com babetes, mantas e bonés de quando era mais pequeno. 
No roupeiro dela ainda foi mais critico. Dois gavetões cheios de lençóis de alcofa e berço, toalhas de banho de bebé e mantas pequeninas de quando ambos eram bebés de colo. Importante referir que ela já não dorme em cama de grades desde o último verão.

Eu andava a justificar esta desordem com falta de tempo e preguicite aguda, mas não, não vou continuar a enganar-me. Tenho o coração apertado por cada lençol, manta e resguardo de cama que vou ter que guardar definitivamente. Eles não voltarão a usar aquelas coisas, eu não voltarei a dobra-las, cheirá-las, simplesmente porque eles cresceram. E sim, isso também é muito bom. Estou a aprender.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Lágrimas de mãe na sopa.

As mães choram por tudo e por nada. Pelos seus filhos. Pelos filhos dos outros também. De tristeza, de orgulho, de felicidade, de raiva, de saudade. As mães choram em qualquer lugar, que não há cá rímel à prova de água, nem olhares de lado que segurem lágrimas de mãe.
 
As lágrimas de mãe sabem a um sabor diferente. Mais salgado ou mais doce conforme o coração dela nesse dia.
 
As lágrimas de Mãe secam rápido mas transbordam ainda mais rápido. Às vezes seguem caminhos no rosto que vão direitos ao coração. Outras vezes também caem na panela da sopa que a mãe está a fazer.
 
Os filhos por vezes comem sopa de lágrimas de mãe.
 
Não é uma sopa normal.
 
É sopa de lágrimas de Mãe.
 
É sopa de sentimentos de Mãe. Rica em nutrientes especiais.
 
[a sopa de Mãe tem tanto de saborosa como de segredos, desabafos e sonhos escondidos lá pelo meio.]
 
 
 
 

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014